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Foto do escritorerojuniorvet

Ouriço, o terror dos cães

Este título até nos faz lembrar daqueles livros de terror, ou das grandes produções cinematográficas do gênero, porém, na verdade,

trata-se de um caso que ocorre com certa freqüencia para infelicidade dos cães e de seus dedicados proprietários.

Na rotina de um consultório veterinário não é raro o atendimento a cães que foram “atacados” por ouriços; de modo geral são

animais provenientes de regiões rurais (sítios, chácaras e fazendas) ou de bairros periféricos, localizados próximos a áreas com

abundante vegetação. Na maioria das vezes, as pessoas muito assustadas trazem o animal todo espetado, com espinhos por toda a

cabeça, principalmente nas regiões da boca, focinho e também patas anteriores. O histórico, via de regra, é que o cachorro saiu

durante a noite e voltou daquele jeito. A maioria dessas pessoas, principalmente aquelas que moram na zona urbana, não fazem idéia

do que poderia ter acontecido com seu amigo. Mas quem mora ou já morou na zona rural sabe muito bem o que aconteceu, ou seja,

o cão foi mexer com um ouriço (pequeno bichinho que vive nas matas) e saiu-se muito mal, todo espetado pelos espinhos.

Os ouriços são mamíferos roedores, podem pesar até 6 quilos, gostam de viver em árvores e apresentam uma cauda muito forte que

os ajuda a se segurarem nos galhos.

Apresentam pêlos muito duros, por isso ficaram conhecidos como “espinhos”. Esta característica nada mais é do que sua proteção,

funcionando como uma “armadura protetora” quando são perseguidos e agredidos por outros animais. E um detalhe interessante é

que quando eles perdem alguns “espinhos”, ocorre uma recuperação, quer dizer, outros nascem no lugar.

O que ocorre normalmente em relação aos acidentes com cães é que durante o dia o ouriço permanece no seu ninho (nas matas, em

árvores), mas à noite deixa o seu local de costume e sai à procura de alimentos nas plantações e nas proximidades das casas; é

quando o cachorro percebendo a presença do bichinho, inicia uma perseguição a ele, e quando finalmente consegue pegá-lo se

enche de espinhos por toda cabeça e patas, espinhos que entram bem fundo. O cachorro, então, volta para casa desesperado,

sangrando bastante e sentindo muita dor.

O tratamento é feito, inicialmente, aplicando no animal um tranqüilizante seguido de um anestésico, para que se possa realizar a

retirada dos espinhos um a um, que na maioria das vezes não são poucos, podendo chegar a mais de 200 espinhos. A retirada é feita

com o auxílio de uma pinça forte, visto que os “espinhos” penetram profundamente no animal. Feito isso, normalmente o cachorro

apresentará uma recuperação rápida e alguns cães, contrariando muitas vezes o seu instinto, dificilmente voltarão a atacar ouriços.

Na verdade, tanto os cães quanto os ouriços são vítimas da ação descontrolada do homem no meio ambiente. É triste constatarmos

que a cada dia que passa, com o desmatamento desenfreado justificado na maioria das vezes pelo progresso e pela necessidade de

novas moradias e novas fábricas e distritos industriais, este e inúmeros outros animaizinhos silvestres vão perdendo o seu direito à

vida. Somos responsáveis pela destruição e desarmonia quando manifestamos negligência pelo direito à existência de nossos

semelhantes e de outras formas de vida animal. Somos igualmente responsáveis pela infelicidade de todos quando procuramos

impor a nossa superioridade e vontade acima de todos os outros companheiros desta vida, impedindo-os até de terem a

oportunidade de progresso e conseqüente evolução.

Cabe refletirmos na máxima de Rousseau que diz: “Sejamos bons primeiramente, depois seremos felizes.”


Ernesto Ruben de Oliveira Júnior

CRMV-SP 5678

01/04/2008


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